Siamesas

 


Siamesas

Que a Coréia do Norte tem uma população massacrada por uma ditadura todos nós sabemos, isso é divulgado diariamente e em tempo real, com toda razão.

Mas sem razão, as atrocidades dos projetos de purificação de sua irmã siamesa vizinha do sul foram pouco e tardiamente divulgadas.

Na Coréia do Sul, nos idos de 1980, crianças e adultos eram retirados das ruas e levados para centros de detenção, onde sofriam abusos e risco de morte.

Han Jong-sun, junto com sua irmã, em um lindo dia de outono em 1984, em um descuido de seu pai, foi sequestrado aos oito anos por um policial. Entregue clandestinamente a um centro social denominado Hyungje Bokjiwon, Han Jong-sun e sua irmã sofreu um pesadelo que durou três anos e que os marcou para sempre.

Histórias assim se sucedem, como a de uma criança presa por estar com um pedaço de pão na mochila voltando sozinha para casa, obrigada a confessar que tinha roubado aquele resto de lanche escolar, por anos foi violentado, torturado e obrigado a trabalhos forçados

Atrocidades diversas foram relatadas, lembram a violência de campos de concentração da II Guerra.

A Coréia do Sul estava no auge de seu milagre econômico. Por trás deste milagre havia uma realidade obscura: a ordem era iniciar uma repressão dos pedintes e medidas de proteção contra os mendigos, que eram transportados, junto com outros eleitos, em um veículo para transporte de vagabundos e encaminhados para centros de bem estar social.

Esses centros recebiam verba pública para purificar a Coréia do Sul de mendigos, órfãos e afins.

É a invisibilidade do já invisível, uma invisibilidade dupla, tripla.

Seria uma tentativa precoce de esconder no subsolo os protagonistas do premiado filme “Parasita”, os refugos de um sistema que sobrevive às custas da competição?


Rodrigo Ferret – 23/06/2020


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